Corpos não chega a ser chocante, embora se trate de seres humanos com expressões faciais tão preservadas que tornam inevitável o questionamento sobre suas identidades. Há momentos especialmente curiosos nas nove galerias dedicadas aos diferentes sistemas funcionais do corpo. Na sala do sistema reprodutivo é possível constatar os diversos estágios de evolução durante a gestação. Há fetos preparados de maneira a ressaltar o esqueleto e outros, o desenvolvimento evolutivo. O módulo do sistema circulatório apresenta um esqueleto vascular que nos lembra o quanto somos frágeis e pulmões afetados pelo fumo apresentados ao lado de pulmões sadios, além de um cérebro com derrame, ensinam sobre doenças e disfunções.
Técnica
Há cerca de duas décadas, quando corpos tratados com a técnica da polimerização foram mostrados ao público pela primeira vez, houve polêmica. Na época, o médico alemão Gunther von Hagens encarava os corpos como obras de arte. Acabou acusado de estetizar os cadáveres, ideia que Glover critica e lamenta. “Nossas exposições são similares, mas fazemos as coisas de forma diferente. No entanto, uma coisa que fazemos do mesmo modo: educar o público”, diz.
Corpos, Glover defende, é uma exposição científica e não uma mostra de arte. Também não trata da morte. “Os corpos são usados há séculos para estudar nossa saúde e nos ensinar como viver melhor. Essa exposição não é sobre corpos mortos, é sobre vida, saúde e bem-estar e como o corpo humano pode nos ensinar a sermos mais produtivos e viver vidas mais satisfeitas.”
Segundo Glover, todos os corpos da exposição vieram de doações para escolas de medicina na China. O fato provocou desconfiança quando Hagens realizou a primeira exposição nos anos 1990. A revista alemã Der Spiegel acusou o médico de trabalhar com cadáveres de prisioneiros políticos. Nas mãos de Glover, a polêmica não se instalou, embora os corpos continuem sendo fornecidos pela China. “Eles têm os melhores dissecadores do mundo”, explica. “Para isso é preciso ter destreza e ser paciente. Eu não poderia fazer o que eles fazem.” Além de corpos, há também 200 órgãos tratados com a mesma técnica de preservação.
» “Eu sabia que seria um sucesso. Medimos ele com o número de pessoas que já viram a exposição, mas sobretudo com a maneira como as pessoas compreendem a exposição, se estão aptas a usar as informações de uma maneira positiva para melhorar suas vidas, para ter uma saúde melhor”
» “Queremos que as pessoas entendam a dinâmica dos corpos em movimento porque é assim que vivemos no cotidiano. Respiramos, corremos, pulamos e queríamos que as pessoas vissem como o corpo realiza tudo isso. Uma vez preservado, nós o colocamos em posições dinâmicas, assim as pessoas podem se deixar levar pelo que estão vendo e ver como isso acontece”
Polimerização
1 » O sangue é retirado e substituído por formol
2 » A dissecação separa órgãos, músculos, veias e todos os sistemas do corpo. Pode durar entre um e dois anos
3 » Formol e água são removidos com um banho de acetona
4 » O corpo é imerso em silicone em um recipiente a vácuo. O silicone substitui a acetona. O corpo é manipulado para a pose desejada
5 » O silicone é endurecido com um processo químico que retira o odor do corpo.